Cerca de 600 pessoas, entre profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, representantes de entidades sociais, estudantes e familiares de pessoas com deficiência, reuniram-se nesta última sexta-feira (29), no Centro Cultural Multiuso Dimas Schlickmann, em São Ludgero, para a 3ª edição do seminário “Inclusão Sem Barreiras: Construindo Equidade para Todos”.
O evento foi realizado pela Assembleia Legislativa, por meio da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo, e teve como objetivo promover debates, reflexões e o compartilhamento de conhecimentos sobre práticas inclusivas no sistema de ensino, com foco na construção da equidade para todos.
Na abertura, o deputado Volnei Weber (MDB), que representou os demais parlamentares no seminário, destacou o trabalho realizado por entidades como as Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) para a inclusão das pessoas com deficiência.
“Antigamente, essas pessoas eram escondidas da sociedade. Foi por meio de entidades como as Apaes que elas passaram a ser resgatadas e integradas, oportunizando que pudessem também participar e se sentir valorizadas. Então, eu tenho que parabenizar sempre os voluntários e os profissionais que trabalham dentro das nossas Apaes por este trabalho, que tornou possível resgatar e dar oportunidade de um bem-estar melhor para aqueles que têm deficiência.”
A realização do seminário – que marca a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – contou com a parceria da Apae de São Ludgero. Conforme o presidente da entidade, Silvio Schlickmann, os debates e palestras realizados por especialistas de diversas áreas, como Educação, Direito e Pedagogia, contribuíram para reforçar, entre a população, o direito das pessoas com deficiência à inclusão.
“Essa é uma palavra muito bonita, muito falada, mas ainda pouco praticada. A gente ainda precisa quebrar barreiras e divulgar cada vez mais em eventos como esse, para conseguir levar essa palavra – inclusão – para fora das Apaes e, com isso, efetivar os direitos das pessoas com deficiência.”
O tema também foi destacado pelo prefeito de São Ludgero, Paulo Sérgio Lorenzetti (PL). “A inclusão social é muito importante, pois ainda vemos no mundo de hoje a dificuldade que essas pessoas têm para serem inseridas na comunidade, no convívio social. Então, nada mais justo que este evento aqui hoje, para disponibilizar palestras e trazer conhecimento para os familiares de pessoas com deficiência e para os profissionais que trabalham com elas.”
Estratégias para a inclusão
Um dos destaques da programação no período da manhã foi a palestra realizada pela psicopedagoga e escritora Luciana Mota Dias Brites, que falou sobre Práticas Inclusivas nos Transtornos do Neurodesenvolvimento.
Conforme a profissional, um dos maiores desafios ligados à inclusão no meio escolar é justamente que os profissionais da educação saibam reconhecer as características e necessidades de cada aluno. Como exemplo, ela citou que, nos Estados Unidos, onde as pesquisas relacionadas ao tema estão mais avançadas, 5% das crianças são diagnosticadas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e uma a cada 32 apresenta Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Hoje, quando se fala em inclusão escolar, um dos maiores desafios é incluir os alunos que têm esses transtornos, como o Transtorno do Espectro Autista, o TDAH e a deficiência intelectual. Entender sobre esses transtornos ajuda muito a promover uma inclusão efetiva. E a gente sabe que esta é uma demanda crescente, que acaba tendo reflexo também nas escolas e nos professores, que sofrem muito por falta de conhecimento. Então, eventos como esse ajudam a auxiliar esses profissionais e toda a rede escolar, para que a inclusão seja efetiva.”
No período da tarde, Fabiana de Melo Giacomini Garcez, pedagoga com habilitação em Psicopedagogia e mestrado em Educação, apresentou o tema “Práticas de Ensino e Inclusão”. A palestra teve como meta orientar os profissionais de educação sobre as práticas de ensino mais adequadas aos estudantes com autismo.
“São práticas baseadas em evidências e em um ensino estruturado, com previsibilidade, programadores visuais e reforçamento. São estratégias que a gente usa com o público com autismo e que têm oferecido resultados muito bons. Elas nos possibilitam conhecer como funciona o cérebro do estudante autista e, assim, podemos começar a trabalhar dentro das prevenções de comportamentos inadequados e não apenas na crise.”
Fechando o seminário, Guilherme de Almeida Prazeres, bacharel em Direito e mestre em Educação, conduziu a palestra “Educação Inclusiva em São Ludgero: Ninguém será deixado para trás”.
Prazeres, que é autista e atualmente preside a Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas, apresentou também estratégias que podem ser utilizadas para melhorar a relação entre professores e alunos no âmbito da educação especial.
“Ao professor regente na sala de aula, uma das grandes questões é apresentar uma aula diversificada. Hoje, a gente tem estratégias como o design universal de aprendizagem, que vai atender não só o público-alvo da educação especial, mas todas as formas de aprender. Isso significa o quê? Que contempla aquele público que vem da zona rural, os quilombolas, os indígenas ou mesmo qualquer criança ou adolescente que tenha desafios do ponto de vista da aprendizagem.”
Na posição de quem vivenciou a situação de ser um aluno com necessidades pedagógicas e hoje está no papel de mestre, ele deixou uma observação final: “Vamos lembrar também que, muitas vezes, não é a criança que tem desafios de aprendizagem, mas o professor que tem desafios de “ensinagem”. Daí a importância fundamental de formações como esta.”
Fonte ==> Semanario-SC