O cafezinho nosso de cada dia, tão presente na rotina de milhões de brasileiros, pode esconder riscos quando consumido junto a determinados medicamentos.
Apesar de ser conhecida por seus efeitos estimulantes e por promover energia, a cafeína é uma substância química potente que interage com o organismo de maneiras complexas, podendo alterar significativamente a forma como alguns remédios agem, levando a efeitos colaterais indesejados e, em alguns casos, a complicações graves.
Entender como essa interação ocorre é fundamental para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos médicos. Quando um medicamento é ingerido por via oral, ele passa por um processo que envolve absorção no estômago e intestino, metabolização no fígado e distribuição pela corrente sanguínea até atingir seu alvo terapêutico.
A cafeína, ao ser consumida simultaneamente, pode interferir em qualquer uma dessas etapas, conforme explicam especialistas e estudos recentes.
Como a cafeína interfere nos medicamentos?
A cafeína pode afetar a absorção de certos fármacos ao modificar o pH do estômago ou acelerar o trânsito intestinal. Isso significa que o medicamento pode passar muito rapidamente pelo sistema digestivo, sem tempo suficiente para ser absorvido adequadamente, ou pode ter sua dissolução prejudicada.
Como resultado, uma quantidade menor do princípio ativo chega à corrente sanguínea, reduzindo a eficácia do tratamento. Em outros casos, a cafeína pode competir com o medicamento pelas mesmas enzimas no fígado (como a CYP1A2), responsáveis por metabolizar ambas as substâncias.
Essa competição pode retardar a eliminação do fármaco do organismo, aumentando sua concentração no sangue e, consequentemente, o risco de efeitos colaterais e toxicidade.
Medicamentos que exigem atenção redobrada
Diversas classes de medicamentos de uso comum podem ter sua ação afetada pela cafeína. É crucial estar ciente dessas interações e conversar com seu médico ou farmacêutico sobre seus hábitos de consumo de café.
Medicamentos para tireoide
A levotiroxina, principal tratamento para o hipotireoidismo, é particularmente sensível.
Tomar café logo após a ingestão do comprimido pode reduzir sua absorção em até 50%. A recomendação é tomar a levotiroxina em jejum, apenas com água, e esperar de 30 a 60 minutos antes de consumir café ou qualquer alimento.
Essa interação diminui a biodisponibilidade do hormônio, podendo levar ao retorno dos sintomas de hipotireoidismo, como fadiga e ganho de peso.
Antidepressivos e ansiolíticos
A cafeína pode interferir na absorção de alguns antidepressivos, como os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS) – exemplos incluem sertralina e citalopram – e os antidepressivos tricíclicos (ADTs) – como amitriptilina e imipramina.
No caso dos ADTs e de alguns antipsicóticos (como a clozapina), a cafeína compete pela mesma enzima hepática (CYP1A2), o que pode retardar o metabolismo do medicamento, aumentando o risco de efeitos colaterais, ou prolongar os efeitos estimulantes da própria cafeína.
Além disso, por ser um estimulante do sistema nervoso central, a cafeína pode antagonizar o efeito de medicamentos ansiolíticos, que visam acalmar.
Medicamentos para resfriado, gripe e asma
Muitos descongestionantes, como a pseudoefedrina, já são estimulantes. Combiná-los com cafeína pode potencializar efeitos como nervosismo, taquicardia, dor de cabeça e insônia.
Alguns remédios para gripe já contêm cafeína em sua fórmula, elevando ainda mais esse risco. Medicamentos para asma, como a teofilina, também podem ter seus efeitos colaterais (como aceleração dos batimentos cardíacos) intensificados pela cafeína.
Medicamentos para TDAH
Fármacos usados no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, como as anfetaminas, são estimulantes. A combinação com cafeína pode levar a uma superestimulação, aumentando o risco de efeitos adversos como agitação, insônia e problemas cardíacos.
Medicamentos para o coração e pressão alta
A cafeína pode elevar temporariamente a pressão arterial e a frequência cardíaca. Para quem utiliza anti-hipertensivos ou medicamentos para controlar arritmias, esse efeito pode neutralizar a ação do tratamento. Pessoas com condições cardíacas devem monitorar como o café afeta seus sintomas e discutir o consumo com o médico.
Analgésicos
Curiosamente, a cafeína pode acelerar a absorção de alguns analgésicos de venda livre, como os que contêm aspirina ou paracetamol (inclusive, alguns já incluem cafeína na fórmula para potencializar o efeito).
Embora isso possa levar a um alívio mais rápido da dor, também aumenta o risco de irritação gástrica e sangramento, especialmente se consumida em excesso ou combinada com outras fontes de cafeína.
Medicamentos para osteoporose
Assim como a levotiroxina, os bifosfonatos (como alendronato e risedronato) precisam ser tomados em jejum, com água, e exigem um intervalo de 30 a 60 minutos antes da ingestão de alimentos ou bebidas como o café, para garantir sua correta absorção.
Antibióticos
Algumas classes de antibióticos (como as quinolonas) podem inibir o metabolismo da cafeína, aumentando seus níveis no corpo e potencializando efeitos como nervosismo e insônia. É sempre prudente verificar a bula ou consultar um profissional.
Consulte seu médico
A interação entre cafeína e medicamentos varia de pessoa para pessoa, dependendo do metabolismo individual e da dose consumida.
A principal recomendação é sempre ler a bula dos medicamentos e, fundamentalmente, conversar abertamente com seu médico ou farmacêutico sobre todos os medicamentos que você utiliza (com ou sem prescrição) e seus hábitos de consumo de café e outras bebidas cafeinadas.
Eles poderão orientar sobre a necessidade de ajustar horários, reduzir o consumo de cafeína ou optar por versões descafeinadas para garantir a segurança e o sucesso do seu tratamento.
Não subestime o poder de uma xícara de café. Estar informado sobre essas potenciais interações é um passo importante para cuidar da sua saúde de forma consciente e segura.
Fonte ==> NDMais