Bill Gates e a Fundação Gates estão a dar o alarme sobre os impactos mortais dos cortes no financiamento internacional na saúde global. Prevê-se que os orçamentos reduzidos reverterão décadas de progresso, fazendo com que o número de crianças que morrem antes dos cinco anos de idade aumente pela primeira vez neste século. Estima-se que 4,8 milhões de crianças morram este ano, um aumento de 200 mil mortes em relação ao ano passado.
“Isso é algo que esperamos nunca relatar, mas é um facto triste. E há muitas causas, mas claramente uma das principais causas tem sido cortes significativos na ajuda internacional ao desenvolvimento de vários países de elevado rendimento”, disse Mark Suzman, CEO da Fundação Gates, num briefing com a comunicação social esta semana.
Suzman apelou especificamente aos EUA, ao Reino Unido, à França e à Alemanha por “fazerem cortes significativos” no seu apoio. Internacionalmente, o financiamento caiu 26,9% abaixo dos níveis do ano passado, de acordo com a filantropia.
A Fundação Gates divulgou hoje o seu Relatório Anual sobre os Goleiros, que acompanha o progresso em medidas que incluem pobreza, fome, acesso a água limpa e energia, parâmetros de referência ambientais e outras métricas.
A fundação com sede em Seattle trabalhou com o Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington para modelar os efeitos da redução da assistência. Os investigadores descobriram que, se os cortes na ajuda persistirem ou piorarem, mais 12 milhões a 16 milhões de crianças poderão morrer nos próximos 20 anos.
Embora apresente projeções sombrias, o documento pretende ser um apelo à ação para governos e filantropos, grandes e pequenos.
“Este relatório é um roteiro para o progresso”, escreve Gates, “onde o gasto inteligente encontra a inovação em escala”.
O bilionário cofundador da Microsoft destaca algumas áreas específicas que poderiam gerar maiores benefícios, incluindo cuidados de saúde primários, imunizações de rotina, desenvolvimento de vacinas melhoradas e novas utilizações de dados.
Os modelos do relatório prevêem que, até 2045, melhores vacinas contra o vírus sincicial respiratório (RSV) e a pneumonia poderão salvar 3,4 milhões de crianças, enquanto novas ferramentas contra a malária poderão salvar mais 5,7 milhões de crianças. Injeções de lenacapavir podem prevenir e tratar o HIV com sucesso.
A fundação chama a atenção para os benefícios da vacinação que salvam vidas, à medida que o Secretário da Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., continua a minar o apoio público às vacinas.
Tendo como pano de fundo a redução do financiamento federal para causas humanitárias globais e o retrocesso nas vacinações, Gates anunciou no início deste ano planos para doar 200 mil milhões de dólares – incluindo quase toda a sua riqueza – ao longo das próximas duas décadas através da Fundação Gates.
A organização com sede em Seattle, que celebra o seu 25º aniversário este ano, encerrará as suas operações em 31 de dezembro de 2045. A filantropia é a maior do mundo e já desembolsou 100 mil milhões de dólares desde a sua fundação.
“Se fizermos mais com menos agora – e voltarmos a um mundo onde há mais recursos para dedicar à saúde das crianças – então, em 20 anos, seremos capazes de contar um tipo diferente de história”, escreve Gates no relatório. “A história de como ajudamos mais crianças a sobreviver ao parto e à infância.”
